Por Sydney Cincotto Júnior
Estima-se que o mês de agosto de 2023 tenha sido cerca de 1,5°C mais quente do que a média pré-industrial de 1850-1900. Isso significa que chegamos no limite previsto pelo Acordo Climático de Paris de tentarmos limitar o aumento da temperatura a 1,5°C até 2030.
Estaríamos próximos de romper o limite de segurança climática do planeta?
Os cientistas do clima preveem que as temperaturas irão ultrapassar os limites de segurança climática pela primeira vez nos próximos anos, que entre hoje e 2027 temos 66% de chance de ultrapassarmos o limite de 1,5°C de aquecimento.
A probabilidade está aumentando, não só devido às emissões de carbono e outros gases de efeito estufa, mas devido à combinação de outros fatores como, por exemplo, a degradação dos ecossistemas terrestres e marinhos pela ação do ser humano e a amplitude do fenômeno climático El Niño no Pacífico. Ou seja, um conjunto de fatores que contribuem de forma sistêmica para elevar a temperatura da Terra.
Contudo, se o mundo ultrapassar esse limite, os cientistas enfatizam que a situação, embora preocupante, provavelmente será temporária. Pois, assim que alcançarmos a neutralidade de carbono, o aquecimento global começaria a reverter a partir de 2050 até o final do século.
A ideia de que “essa situação seja provavelmente temporária”, é que parece ser preocupante. Porque pode não ser!
Nessa perspectiva, é correto afirmar que a descarbonização da economia não seria suficiente para impedir um colapso climático, evitar a ebulição global?
Antes de qualquer afirmação, é preciso considerar que o tema do aquecimento global exige que nós tenhamos um olhar sistêmico em relação aos fenômenos da Natureza e aos provocados pela ação humana, porque estão interligados.
Quando os especialistas dizem que ainda é possível limitar o aquecimento global a 1.5 graus Celsius estão, normalmente, referindo-se especialmente às medidas de descarbonização que nos levariam à neutralidade de carbono até 2050.
Porém, parece não ser suficiente descarbonizar a economia para evitar a ebulição global, é preciso mudar o paradigma econômico vigente, para que possamos de fato promover uma transição socioecológica, que beneficie não só a humanidade, mas o Planeta todo.
A descarbonização da economia, é um dos passos a serem dados, e um dos mais importantes. Mas, mais do que isso, é preciso que os nossos modelos de negócio, o nosso sistema produtivo como um todo, seja generoso com a vida do planeta.
Mais que sustentável, necessitamos que as empresas sejam regenerativas, que devolvam vida ao ecossistema local no lugar das externalidades que poluem o ambiente, contaminam a biosfera aquecem o planeta e degradam os sistemas vivos.
Nesse sentido, o Social da sigla ESG só se realizará se o Ambiental também se realizar na sua amplitude. Por isso, a Governança deve ter como missão a generosidade com os ecossistemas bioculturais e perseguir o ideal de um sistema econômico regenerativo.
Trabalhar contra a Ebulição Global exige uma outra forma de pensar e agir no mundo, requer uma mudança de paradigma, com uma visão sistêmica e um pensamento ecologizado.