Foto:Sítio dos meus pais em São José da Lapa, em Minas Gerais. Nos oferecemos bananas aos micos e eles nos brindam com interações e reciprocidades.
Somos todos macacos?
Ansiedade, precipitação, falta de visão sistêmica e imediatismo seriam os sintomas da nossa sociedade vigilante? Somos guiados por tecnologias smarts e a maioria das pessoas acha que sofre de TDAH (Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade)? É isso mesmo? O sistema está em colapso e estamos à beira de um ataque de nervos? Infelizmente, esses comportamentos vêm sendo incorporados pelas pessoas também nos processos de gestão das marcas e talvez seja por isso que ataques de net-ativistas vêm sendo incorporados por consumidores ou formadores de opinião que vigiam os comportamentos e discursos equivocados frequentemente alvo desse tipo de ação. Gosto de lembrar o que Foucault (1970) mencionou sobre as práticas discursivas: “As práticas discursivas não são pura e simplesmente modos de fabricação de discursos. Ganham corpo em conjuntos técnicos, em instituições, em esquemas de comportamento, em tipos de transmissão e difusão, em formas pedagógicas, que ao mesmo tempo as impõem e as mantêm”. Por isso, a responsabilidade de todos nós só aumenta porque as práticas discursivas em curso apenas mantêm o que estamos presenciando na boca das campanhas equivocadas – elas revelam muito sobre o pensamento vigente da nossa sociedade atual e sobre nós mesmos. Todo cuidado é pouco.
Precisamos mudar nosso modelo mental. Chega de jogar pedra na Geni: a publicidade não é a vilã! Só para lembrar: somos primatas humanos, incompletos. Nunca teremos as nossas necessidades plenamente satisfeitas, mas nossa responsabilidade aumenta cada vez mais porque temos o domínio de técnicas que nos permitem tomar decisões sobre todos os outros seres vivos da terra. Mas isso não nos faz superiores; ao contrário, tem nos tornado medíocres e míopes em relação a nós mesmos e às outras espécies. Esquecemos a solidariedade, a reciprocidade a favor de uma “moral” que privilegia os valores capitalistas de mercado.
Frans de Waal, em suas pesquisas com bonobos e chimpanzés, conseguiu comprovar que a moralidade está presente também em primatas não humanos porque há dois fatores sempre presentes: a reciprocidade, o senso de justiça e a partir deles a empatia e a compaixão. Infelizmente, os humanos vêm demonstrando visões imediatistas, supondo que o dinheiro pode comprar tudo ou que a publicidade pode vender tudo. No entanto, nem sempre essas estratégias capitalistas têm convencido as pessoas dessa falsa moral, e a campanha #somostodosmacacos acabou causando a antipatia do público. Encerro essa reflexão com o pensamento de Edgar Morin: “A dominação dos objetos materiais, o controle das energias e a manipulação dos seres vivos foram importantes para o avanço da humanidade, mas se tornou míope para captar as realidades humanas, convertendo-se numa ameaça para o futuro humano”. Professora Vivian Blaso, Doutorada em Mestre em Ciências Sociais e autora do Blog Conversa Sustentável.