EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO E SUSTENTABILIDADE

Uma construção sustentável nasce a partir de uma atitude sustentável e com isso, o início de qualquer construção deve partir do envolvimento com empreendedores, profissionais, construtores, operários, fornecedores, futuros usuários, e equipes de manutenção, ou seja, os públicos envolvidos nesta cadeia com intuito que todos alcancem a mesma visão: atingir a sustentabilidade.
  Considerando uma visão holística do empreendimento, será possível definir quais estratégias poderão ser adotadas na busca pela sustentabilidade, a que melhor atende em cada contexto, exigindo assim a compreensão da peculiaridade implícita em cada projeto.

A decisão para cada obra partirá de uma avaliação conjunta entre todos os envolvidos referente a todas as fases da obra por isso destacamos 04 etapas estratégicas que serão necessárias para assegurar a viabilidade de uma construção sustentável: Condição de Sustentabilidade da Empresa, Estudo de Viabilidade do Empreendimento, Gestão do Empreendimento e Administração Posterior.  
Etapa 1 – Condição de sustentabilidade da Empresa
Na etapa 1, o fator estratégico que está em cheque é a postura da empresa em relação a sustentabilidade, ou seja, se o conceito é apenas um discurso ou se tangibiliza através de praticas e ações organizacionais como por exemplo: a declaração de relatórios de sustentabilidade, incorporação de ações de responsabilidade sócio ambiental. Além disso, é importante avaliar  se a empresa adota posturas éticas e apresenta clareza na sua comunicação com consumidores, e ainda se a empresa esta em conformidade com as normas técnicas e legislações vigentes no país onde mantém suas operações.         
Etapa 2 – Estudo de viabilidade do empreendimento
Nesta etapa elenca-se a seguir as atividades que podem contribuir para a pegada sustentável do empreendimento, são elas:
Concepção do produto– O primeiro passo, é o mais importante, é saber qual o tipo de empreendimento se quer lançar, o público alvo, direcionar suas necessidades, verificar a forma menos impactante para o meio e o tipo de sensações que se quer gerar no público. Além de se ter a ideia clara de ser um empreendimento sustentável (base). Pois se o conceito inicial não for bom haverá problemas de viabilizá-lo, construí-lo ou impactar negativamente no ambiente. A implantação errada de um edifício pode anular elementos sustentáveis de serem inseridos nesta construção (Exemplo: Implantação ruim, devido ao Norte, poderá gerar maior gasto de energia no empreendimento);
 – Análise do potencial técnico e financeiro da empresa em relação ao empreendimento – Verificar primeiramente, capacitação dos técnicos. Se forem capazes de viabilizar um empreendimento sustentável, se sabem o que é ser sustentável, se são capazes de utilizar técnicas tradicionais, novas ou locais no empreendimento, tendo flexibilidade de desenvolver o produto. Caso não se tenha estas pessoas é necessário contratar e também fazer com que os profissionais já empregados recebam este aprendizado (atualização). Financeiramente é preciso saber o poder econômico da empresa e o quanto de capital o empreendimento vai precisar, podendo aqui se inviabilizar ou não o produto. Se no caso a empresa não possui todo o recurso pode procurar financiamentos públicos ou privados, procurar parceiros que tenham as mesmas idéias com relação ao empreendimento. Podendo até tentar influenciar e mostrar ao poder público que seu empreendimento será sustentável (vai gerar recursos para comunidade, empregos, preservar meio ambiente) para conseguir isenção de impostos o que ajudará futuramente na manutenção do empreendimento;        
Análise do mercado e das possibilidades de rendimento – Verificar as necessidades do mercado, se já existente este tipo de empreendimento ou não. Se já existe, qual será seu diferencial para atrair investimentos, compradores. Se for inovador, verificar o que fazer para o público alvo entendê-lo, ser aceito e poder ter a rentabilidade necessária. E neste momento que se deve verificar se haverá necessidade de expansão futura do negócio, se ele será rentável. No caso de imóveis residenciais, trazer elementos que gerem economia de água, energia, conforto ambiental. Em empreendimentos comerciais, mostrar que a sustentabilidade além dos fatores que geram economia com o prédio, criará conforto aos usuários, empregados o que trará maior lucro, pois pessoas satisfeitas trabalham melhor. Ou tentando mostrar que o empreendimento se preocupa com a sustentabilidade, pois utilização desses elementos agregaria valor a marca o que geraria confiabilidade por parte do cliente e ampliaria o seu mercado.      
Aquisição do terreno, caso a empresa não tenha – Se possuir o terreno verificar se a implantação do mesmo criará agravantes para o local, impacto de vizinhança, e verificar formas de minimizá-lo. Se o investimento neste local vai gerar os lucros esperados, rentabilidade, retorno. Se o local tem vocação para o empreendimento. Caso contrário procurar outro terreno e fazer a mesma verificação.  Averiguando sempre se o valor do terreno é compatível com o empreendimento.  
Contratação de especialistas em sustentabilidade e demais profissional capacitados com visão sistêmica e integrada, caso a empresa não tenha – Seria necessário tomar os mesmos cuidados que foram verificados no item de análise de potencial técnico. Tendo em mente sempre a preocupação da interface com o entorno, técnicas construtivas, materiais, fornecedores, gasto de energia, os usuários, etc.
    Etapa 3 estão do empreendimento
Elaboração e coordenação de projetos – Além dos projetos atenderem as necessidades do cliente deve-se sempre se preocupar com o usuário e interação com a vizinhança. Nessa fase os projetistas devem compatibilizar os projetos, estarem sempre integrados e realizarem reuniões periódicas entre todos os envolvidos. Assim pode-se fazer com que todos os sistemas do prédio funcionem adequadamente, com menos interferência possível na obra. O tempo gasto no desenvolvimento dos projetos e coordenação gera um bom andamento de obra, com economia de tempo, dinheiro e retrabalhos. Neste item se deve verificar qual será a técnica construtiva mais adequada, materiais utilizados, fornecedores, tipo de instalações. Dependendo do tipo de construção pensar onde máquinas mais pesadas ou maiores irão entrar na obra, sua logística. Também se deve pensar: no descarte de resíduos (todos os tipos, a coleta seletiva); reuso de água; impacto dos produtos que serão entregues na obra; conforto térmico e acústico; funcionalidade; utilização de meios naturais; tipo de energias sustentáveis; telhado verde; áreas verdes; integração das pessoas, etc.       
Planejamento e orçamentação – Planejar toda a estratégia necessária, desde a distribuição e disponibilização de recursos financeiros, parceiros e fornecedores que se adéqüem ao conceito de sustentabilidade (que estejam próximo da obra e caso isso não seja possível que se adéqüem melhor ao empreendimento), tipo de funcionários necessários, descarte de materiais da obra, verificar se o que foi projetado estará bem conectado com a forma de gerenciar a obra, se a idéia de gastos realmente está correta, se há necessidade de alguma alteração de projeto para tornar a obra mais eficiente.
 – Legalização do empreendimento – O projeto deve atender a legislação vigente, sempre ficando atento à sustentabilidade. Consultas prévias aos órgãos competentes são muito necessárias. E se houverem modificações quando o processo de aprovação já estiver tramitando nos órgãos competentes, eles devem ser no máximo de 5% (permitido por lei). Seria importante criar um canal de contato, logo no começo do projeto, com os órgãos públicos envolvidos para tornar mais fácil e rápida sua aprovação.
– Comercialização – A estratégia de marketing deve ser criada e posta em prática desde que se tenha uma idéia definitiva, um projeto concreto do empreendimento, tentando mostrar a realidade do produto, suas características, a quem se destinam seus pontos positivos, mostrar o seu lado sustentável de uma maneira que o cliente entenda os benefícios gerados e o que é sustentabilidade.
– Execução – Na execução deve-se atender ao que foi definido em projeto, caso haja necessidade de modificações devem ser discutidas em conjunto entre os engenheiros de obra e os projetistas. É de extrema importância que os projetistas participem da execução da obra, e o cliente também possa ser envolvido. A empresa de execução da obra não deve perder o foco do empreendimento e estar atenta ao planejamento já feito anteriormente. A obra deve ser mantida limpa, organizada, mantendo nível de ruídos aceitáveis, segurança dos trabalhadores, funcionários treinados, reduzirem efeitos indesejáveis, descarte adequado de materiais, conexão adequada com fornecedores. Seguir os cronogramas, fluxogramas, organogramas, técnicas limpas e adequadas de construção. E quanto mais eficiente for a execução da obra, mais fácil de cumprir o prazo de entrega e conseqüentemente dentro dos custos estimados. 
   
Etapa 4 Administração posterior a construção
Atendimento ao cliente– Após o termino da obra deve-se mostrar/conscientizar o cliente como utilizar o empreendimento para melhor eficiência, e assim tirar dúvidas que surjam. O manual do proprietário que é entregue com a finalização da obra deveria ser um manual feito para ajudar o usuário, como o manual fornecido para qualquer equipamento eletrônico. Seria muito importante que os envolvidos no projeto e obra pudessem posteriormente manter uma comunicação com os clientes e usuários do empreendimento para verificar se o que foi feito atendeu suas necessidades e se futuramente continuará atendendo, ou se surgirem problemas, quais seriam as soluções. Servindo este tipo de postura como base para estudos e aprendizado. 
Manutenção e administração ao longo de sua vida útil – A manutenção deve ser diária e deveria começar, quando possível, antes mesmo do empreendimento ser entregue, fazendo com que a futura equipe de manutenção veja as instalações e sistemas sendo instalados, podendo tirar suas dúvidas, etc. E realmente necessário que esta equipe de manutenção siga as especificações fornecidas pelo executor da obra na hora de realizar reparos. Caso sejam necessárias mudanças futuras os donos do empreendimento deveriam consultar a construtora e os projetistas, para viabilizarem conjuntamente a melhor solução.
Considerações Finais      
Contudo, considera-se que a questão econômica é um fator que implica diretamente na viabilização dos empreendimentos sustentáveis, bem como trabalhar com todos os envolvidos nesta cadeia de forma sistêmica, com a utilização de tecnologias sustentáveis existentes (ex.: redução do uso de energia; maximização do aproveitamento dos recursos hídricos; busca de materiais de menor impacto, mas com garantia de qualidade; etc.) e investindo em novas tecnologias de forma continuada, na busca de melhores resultados.
Mas outro aspecto fundamental nessa analise é o comprometimento social de todos os atores envolvidos diretamente com o empreendimento (técnicos, trabalhadores da obra, fornecedores, clientes, equipes de manutenção, etc.) bem como a importância de inserir a comunidade do entorno ainda pouco considerada nos empreendimentos chamados sustentáveis principalmente aqueles que já receberam algum tipo de certificação verde.  
Por isso, são necessárias ações que possibilitam minimização dos prováveis impactos a serem gerados, bem como, a necessidade de uma mudança de comportamento e de adoção de atitudes em direção a sustentabilidade, uma vez que as empresas do setor construtivo possuem uma característica distinta das demais empresas trata de uma industria nômade e focada na geração de produtos fixos mas com impactos gerados pelas atividades humanas por toda a sua fase de vida útil tais como; gastos com água, energia, e geração de lixo.  
Autores:
Vivian Aparecida Blaso Souza Soares Cesar – Doutoranda e Mestre em antropologia – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, membro do corpo docente do curso de Pós Graduação Lato-sensu em Construções Sustentáveis e Publicidade e Propaganda da FAAP. vivianblaso@uol.com.br
Sasquia Hizuru Obata – Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Mestre em Engenharia Civil, Docente nos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil da FAAP e Universidade Cruzeiro do Sul e Coordenadora do Curso em nível de Pós-graduação Lato-sensu em Construções Sustentáveis da FAAP. sasquia@terra.com.br