Prêmio PINI

Trajetória sustentável
Criado para fomentar práticas de sustentabilidade em todo o setor da construção civil, CBCS é homenageado pelo Prêmio PINI 2010

Por Gisele Cichinelli

Alguns membros do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável
Reduzir os efeitos negativos da atividade da construção civil é o princípio básico que norteia as atividades do CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sus­ten­tável). Desde que surgiu, em 2007, a entidade vem contribuindo na disseminação dos conceitos de sustentabilidade, na elaboração de diretrizes e na fomentação de políticas públicas que incentivem a adoção de práticas sustentáveis na cadeia produtiva. “O CBCS é um dos muitos nós de uma rede complexa de interesses e parcerias. Nosso trabalho é multidisciplinar, com ações integradas, que objetivam o entendimento de como a questão da sustentabilidade afeta o setor como um todo”, explica Marcelo Takaoka, diretor da Takaoka Empreendimentos e presidente do CBCS.

Trajetória
Apesar de ser a maior consumidora de matéria-prima e energia elétrica do mundo e a número um em geração de resíduos, contraditoriamente, a indústria da construção civil tardou em se preocupar com os impactos provocados pela atividade. Enquanto outros segmentos discutiam a questão ainda na década de 1970, os primeiros movimentos do setor em âmbito mundial aconteceram só a partir de 1990. No Brasil, algumas iniciativas pontuais começaram a despontar no meio acadêmico ainda nesse período, avançando de maneira consistente na década seguinte. “Faltava, no entanto, institucionalizar esse movimento”, conta Orestes Marracini Gonçalvez, diretor da Tesis e coordenador do comitê temático de Água do CBCS. As primeiras reuniões nesse sentido aconteceram em 2006, quando um grupo de acadêmicos interessados em entender as questões de sustentabilidade passou a se reunir com frequência. Nascia aí o embrião do CBCS. Os professores e pesquisadores, no entanto, logo perceberam que, se quisessem agir concretamente na cadeia produtiva da construção, era preciso ultrapassar as fronteiras da academia, abarcando também o setor privado. Em 2007, 16 profissionais que atuam em várias dimensões do tema sustentabilidade fundam o CBCS. Incorporadores, construtores, fa­­­bri­­­­cantes, projetistas, associações e entidades setoriais foram trazidos para integrar os co­­­mitês, dando representatividade e legitimidade à entidade. À época da sua fundação, lem­­­­­bra Takaoka, um dos maiores desafios era congregar, sob o mesmo guarda-chuva, as diversas visões sobre o tema. “Havia uma noção bastante descentralizada dos conceitos de sustentabilidade, cada um pensava a partir de seus próprios pontos de vista”, recorda o presidente, completando que a entidade veio ocupar o espaço do meio, sendo um interlocutor neutro desses agentes. Ainda no mesmo ano surgem os comitês temáticos, cujo papel é debater e apontar boas práticas nos segmentos de energia elétrica, água, materiais, projeto, avaliação de sustentabilidade e finanças e economia.

Próximos passos
Na análise de Gonçalvez, o esforço tem sido reconhecido. “O CBCS é uma entidade nova, que trata de um tema relativamente novo, mas conseguimos fazer um trabalho consistente”, observa. “Ao organizar e disseminar informações, o conselho acaba forçando o mercado a adotá-las”, completa. Apesar de o amplo trabalho de condensação e difusão do conhecimento sobre sustentabilidade render à entidade o mérito de ser uma das maiores referências no Brasil nesse assunto, os conselheiros reconhecem que ainda há muito a ser feito. Se, em um primeiro momento, foi preciso “educar” o mercado, agora a tarefa é incentivar os agentes do setor a incorporarem atitudes sustentáveis no dia-a-dia de seus negócios, evitando que o tema caia em um esvaziamento retórico ou sirva de mera ferramenta de marketing. “Ficarmos restritos tão somente a ações mercadológicas seria um perigo. Ao conselho cabe o papel de separar o joio do trigo; mas o usuário final também terá um papel preponderante nesse sentido e devemos educá-lo para fazer essa tarefa”, diz Paulo Lisboa, coordenador do Comitê de Projetos.

O arquiteto também destaca a necessidade de descentralizar as discussões a partir da criação de núcleos de estudos em outras regiões do País. “Temos feito um trabalho consistente, mas nosso campo de atuação ainda está muito restrito ao Estado de São Paulo”, lembra. Por enquanto, além do Estado, destaca-se também Santa Catarina, como polo gerador de informações e estudos na questão da eficiência energética. Sob o ponto de vista ambiental, as próximas discussões – que até então giraram em torno dos impactos do ciclo produtivo dos materiais e da operação das edificações – devem se confrontar com questões sobre o efeito do meio ambiente nas edificações. Alguns grupos já estão sendo criados para estudar como as chuvas, descargas elétricas, velocidade dos ventos e aumento de temperatura estão afetando as construções, sobretudo nos países tropicais.

Trabalhos de destaque

Projetos que resultam em construções de baixa durabilidade, com qualidade questionável da construção, conforto interno inadequado e, ainda por cima, com altos custos de operação e manutenção são uma realidade comum quando se trata de programas de habitação social, sobretudo nos países em desenvolvimento. Na tentativa de mitigar esse problema, o incentivo de práticas sustentáveis na construção em geral, e também nesse tipo de moradia, tem sido uma das principais bandeiras do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável. Seminários sobre o tema e a participação na elaboração de diretrizes de sustentabilidade por meio de concursos de tipologias para esse tipo de edificação fazem parte do escopo de atuação do CBCS. O engajamento vem ultrapassando fronteiras e hoje, juntamente com o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) do Brasil, a entidade é uma das representantes brasileiras do Sushi (Sustainable Social Housing Iniciative), projeto que faz parte do SBCI (Sustainable Building Iniciative), da ONU, e é desenvolvido junto com representações locais do PNUMA do Brasil e da Tailândia. “Nosso objetivo é buscar todas as alternativas tecnológicas existentes no mercado local visando alcançar a sustentabilidade, mas sempre respeitando a capacidade financeira de pagamento das famílias para aquisição e manutenção dos seus respectivos imóveis”, completa Marcelo Takaoka, presidente da entidade. A ideia dessa iniciativa é proporcionar maior satisfação ao usuário final, melhorando o desempenho ambiental e promovendo o menor custo do ciclo de vida dessas edificações. “Queremos incentivar uma mudança das práticas vigentes na produção de habitação de interesse social”, completa Diana Csillag, diretora-executiva do CBCS.

Raio X do CBCS

O Conselho Brasileiro de Construção Sustentável é uma organização da sociedade civil de interesse público, de âmbito nacional. Seu quadro social é composto por pessoas físicas e jurídicas que buscam contribuir para a geração e disseminação de conhecimentos e boas práticas de sustentabilidade na construção civil. A entidade atua por meio de seis comitês temáticos:

CT Água
Coordenação: Orestes Marracini Gonçalves
Temas em desenvolvimento:
n Uso racional da água em edificações
n Práticas sustentáveis na cadeia produtiva da construção civil
n Educação ambiental ao consumidor

CT Avaliação de sustentabilidade
Coordenação: Francisco Cardoso
Temas em desenvolvimento:
n Boas práticas na avaliação de produtos, projetos e empresas
n Identificação das lacunas para alcançar as boas práticas
n Discussão da Avaliação de Sustentabilidade com relação à realidade brasileira

CT Energia
Coordenação: Roberto Lamberts
Temas em desenvolvimento:
n Eficiência energética em edificações
n Práticas sustentáveis na cadeia produtiva da construção civil
n Educação ambiental ao consumidor
n Discussão sobre Norma de Desempenho para Edifícios de até cinco andares

CT Materiais
Coordenação: Vanderley Moacyr John
Temas em desenvolvimento:
n Diagnóstico de práticas sustentáveis na indústria de materiais e componentes
n Elaboração de ferramenta web para seleção de fornecedores com base em sustentabilidade. Essa ferramenta permitirá verificar a formalidade da empresa (fiscal e ambiental), as práticas de qualidade, bem como traçar o perfil socioambiental
n Desenvolvimento da infraestrutura necessária à introdução da Análise do Ciclo de Vida, como ferramenta de projeto e gestão na cadeia da construção. O comitê está construindo uma parceria com a iniciativa do Governo Federal na área

CT Econômico-financeiro
Coordenação: Marcelo Takaoka
Temas em desenvolvimento:
n Como estimular, por meio das instituições financeiras, boas práticas de sustentabilidade no setor da construção civil
n Identificação de riscos não econômicos do setor imobiliário, principalmente riscos ambientais, sociais e de mercado

CT Projetos
Coordenação: Paulo Lisboa
Temas em desenvolvimento:
n Elaboração do manual de serviços para contratação de projetos para empreendimentos sustentáveis definindo critérios e responsabilidades entre contratantes e contratados
n Discussão sobre especificação de materiais

Depoimentos

“Ao longo dos seus quatro anos de existência, o CBCS se destacou na promoção do amplo debate sobre as questões relacionadas à sustentabilidade e, ainda, na articulação e integração de esforços de diversas instituições, por meio de acordos de cooperação e parcerias, que têm como objetivo comum o desenvolvimento sustentável. A Caixa é parceira do conselho em várias dessas iniciativas, especialmente aquelas que visam induzir à produção de habitações mais sustentáveis, buscando integrar a conservação ambiental aos negócios e a contínua melhoria de vida da sociedade brasileira.”

Jean Rodrigues Benevides
gerente nacional de Meio Ambiente da Caixa Econômica Federal

“Creio que a maior contribuição do CBCS tem sido a abertura de espaço para a criação de redes de profissionais e empresas que atuam no tema sustentabilidade, visando promover a troca de experiências, a discussão e o aprofundamento de um pensamento brasileiro sobre as várias dimensões da construção sustentável, sempre considerando de forma integrada os aspectos econômicos, ambientais e sociais.”

Roberto de Souza
diretor presidente do CTE (Centro de Tecnologia de Edificações) e membro fundador do CBCS

“O papel do CBCS é mostrar para o mercado que a aplicação dos conceitos de sustentabilidade na construção civil não é utopia ou simplesmente uma estratégia de marketing. Como fórum neutro e sem interesses econômicos envolvidos, o CBCS é hoje uma das maiores referências sobre construção sustentável e temos, por meio dos diversos eventos promovidos, conseguido aumentar consideravelmente o número de pessoas interessadas no tema.”

Vahan Agopyan
pró-reitor de Pós-graduação da Universidade de São Paulo e conselheiro do CBCS

“Entre as principais bandeiras do CBCS estão o estímulo ao debate, o confronto de ideias e a promoção de eventos e reuniões, inclusive com a participação de profissionais de outros países, a fim de fomentar discussões e apontar tendências em torno do tema construção sustentável. Graças a esse trabalho, o mercado já é capaz de compreender melhor esses conceitos. E já faz várias iniciativas como a nossa, o que é muito bom para todos.”

Francisco Cardoso
professor-associado da Escola Politécnica da USP e coordenador do Comitê Temático de Avaliação de Sustentabilidade do CBCS

“A criação de uma agenda sustentável adequada à realidade social, ambiental e econômica do Brasil e, sobretudo, fundamentalmente diferente das soluções green building que vêm sendo irresponsavelmente exportadas e importadas, tem sido uma prioridade ao longo desses anos. A inclusão da dimensão social ao conceito de sustentabilidade na construção civil é uma das mais importantes bandeiras do CBCS. O combate à informalidade tem sido uma das suas ações prioritárias.”

Vanderley Moacyr John
professor-associado da Escola Politécnica da USP e coordenador do Comitê Temático de Materiais

“Não basta conscientizar o setor sobre sustentabilidade. É importante também capacitar os profissionais para que eles possam desenvolver e pôr em prática esses conceitos em seus projetos. Desde a sua criação, essa tem sido uma das principais estratégias de atuação do conselho, que também batalha para sensibilizar o governo de modo a fomentar políticas públicas nesse sentido. A redução dos impostos estaduais e federais sobre insumos no intuito de tornar as chamadas tecnologias sustentáveis mais acessíveis é uma das nossas lutas. É sempre uma batalha difícil, mas, embora de maneira lenta, estamos conseguindo alguns avanços importantes.”

Luiz Henrique Ceotto
diretor de Design e Construction da Tishman Speyer Properties e membro do Conselho Deliberativo do CBCS

Currículo do CBCS

Seminários e oficinas
HIS Sustentável – Projeto de Habitação de Interesse Social Sustentável (parceria com CDHU, IAB, CBCS e Mackenzie)
2o Seminário de Uso Racional da Água em HIS no Estado de São Paulo (parceria CBCS e CDHU e Secretaria da Habitação)
Oficina – Vulnerabilidade em áreas de risco: o que fazer
Oficina de iluminação e eficiência energética
Seminário eficiência energética e habitação de interesse social (parceria CBCS e CDHU e Secretaria da Habitação)
A nova norma técnica de sistemas prediais de água fria e água quente
n Workshop sobre Eficiência Energética em Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos; 1o Seminário de Sustentabilidade e Facilities realizado pelo CBCS e Abrafac
n Oficina Madeira: produção, consumo, destinação e políticas públicas n Oficina Ana/CBCS – Gestão do uso da água na construção civil
n Assinatura do protocolo de cooperação do uso da madeira legal
n Workshop coordenação modular

Comitês e entidades das quais faz parte
Signatário do programa Madeira é Legal
Membro do SBCI, Sustainable Building Climate Initiative
Membro do Comitê Municipal de Mudança do Clima e Ecoeconomia
Membro da Câmara da Construção da Cetesb
Membro do Conselho Estratégico do Programa Construção Sustentável/ CBIC
Membro do Conselho Estadual de Mudanças Climáticas

Parcerias
ANA, Agência Nacional de Águas
Pnuma/Unep – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Escola Politécnica da USP
Caixa Econômica Federal
CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional
e Urbano)
FEC – Unicamp