Sabrina Domingos (CarbonoBrasil) — Os investidores éticos têm chances de se saírem melhor no mercado financeiro, sem serem prejudicados pela atual crise econômica mundial, do que os demais participantes, afirma Nick Robins, autor do livro “Investimento Sustentável – A arte da performance de longo prazo”. Isso porque as escolhas verdes tendem a gerar melhores resultados, já que os investidores éticos costumam adotar estratégias mais voltadas para o futuro. Apesar de ter sido escrito antes de a crise no mercado de crédito estourar, o livro traz conselhos valiosos sobre o tema. Em entrevista para o site ClimateChangeCorp, Robins defende uma definição menos restritiva para o investimento sustentável e critica o costume dos mercados financeiros de focar no curto prazo. Ele diz que, em geral, os investidores sustentáveis apresentam um melhor desempenho do que os demais agentes porque apostam em fundos com maior possibilidade de antecipar o que acontecerá com as empresas no futuro. “Mercados financeiros não representam a verdade da economia”, diz, referindo-se à natureza repentina da crise econômica recente. Robins esclarece que os investidores institucionais precisam ter uma visão avançada do negócio, pensando além dos próximos um, dois ou três anos, caso desejem cultivar alguma forma de estabilidade econômica. Por isso, estima que cerca de 50% dos investidores já estão se informando sobre os riscos do carbono e lendo fontes como o Projeto Carbon Disclosure, em que empresas reportam suas estratégias para as mudanças climáticas. Dois lados Robins vê o apego do mercado às áreas de óleo e gás como uma contradição. “Essas empresas são tratadas como se óleo e gás fossem ativos, quando, na realidade, são os responsáveis pelo carbono”, afirma. Os defensores dessas commodities utilizam como argumento o fato de óleo e gás sempre serem considerados investimentos seguros, enquanto as energias renováveis dependem de subsídios do governo para sobreviverem. Mas Robins não compra a idéia: “Todas as formas de energia são apoiadas por subsídios do governo”, afirma. “Os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apóiam a indústria de óleo com US$ 310 bilhões e grande parte da quantia é gasta com custos militares”. O autor defende que os subsídios a óleo e gás sejam repassados para a formação de uma estrutura de energia mais limpa. “No último ano, o líder da Agência Internacional de Energia (IEA) disse que uma economia de baixa emissão de carbono era inatingível; este ano, a IEA publicou um relatório de energia dizendo que é possível cortar emissões em 50% até 2050”, argumenta. Na área corporativa, já existem progressos nesse sentido. Robins diz que tanto a gigante de carros Ford quanto a fabricante de cimento Lafarge estão começando a gerar a própria energia eólica para equilibrar a volatilidade dos preços do óleo e do gás. “A energia eólica produzida na área costeira é competitiva com o gás… e a energia solar será a opção preferida de muitos países [para substituir os fósseis]”, afirma. “Para citar Chevron: A era do petróleo fácil acabou”, comenta. Aposta verde Com a crise econômica, os próximos cinco anos serão uma oportunidade para se balancear duas necessidades críticas, explica Robins: os investidores precisam de ativos seguros e o mundo precisa de investimentos em adaptação e mitigação das mudanças climáticas. A expectativa é de que os investimentos dos governos para acelerar a economia nos próximos anos sejam direcionados para área de infra-estrutura ambiental. Robins vê a possibilidade partindo de iniciativas governamentais ou de empresas e por meio de fundos de infra-estrutura ambiental. Ele destaca ainda a eficiência energética como a maior oportunidade de investimento sustentável do nosso tempo. “As pessoas falam sobre coisas caras, como captura e armazenamento de carbono ou energia solar, mas a eficiência energética apresenta um sistema de rendimento seguro para investidores”. Robins critica o pacote de energia dos Estados Unidos lançado no início do ano por não dar ênfase à questão da eficiência. Entretanto, com os países reagindo à crise econômica e objetivando o corte de custos, e com a América buscando a independência energética, ele acredita que em breve os investidores irão criar “fundos de eficiência energética” nos EUA, na China e na Índia, dedicados ao investimento em eficiência energética em empresas de serviços. Europa x EUA Sobre o esquema de negociação de carbono da União Européia (EU ETS), Robins entende que pode ser uma boa maneira de se controlar os setores industriais, mas vê pouco avanço em eficiência energética e em energias renováveis dentro do sistema. Se por um lado o autor repreende o foco da UE para a negociação de carbono, por outro elogia o pensamento mais unido dos EUA, em que as conversas sobre mudanças climáticas estão voltadas para a criação de empregos e para a redução da dependência do petróleo. “Obama está falando em criar cinco milhões de empregos verdes”, ressalta ao dizer que, por mais que o recém-eleito presidente incentive sistemas “cap and trade” (de captura e comércio de carbono), a sua política está voltada para segurança energética. “Os planos de Obama incluem a redução do consumo de óleo, a produção de um milhão de conectores híbridos, o aperfeiçoamento dos códigos de eficiência nas construções e o desenvolvimento de uma meta para energia renovável. ‘Cap and trade’ será o quinto pilar de um plano completo”, esclarece. Apesar de haver uma chance de que o pacote climático da UE traga mais vantagens para a mesa de negociação, a nova administração americana ressuscita a esperanças de uma economia global de baixa emissão de carbono em um curto espaço de tempo.
Momento é favorável a investimentos sustentáveis
Recebi este texto de uma colega e achei interessante publicar no Blog.