Qual o verdadeiro valor de um imóvel ?

O fator econômico é o vetor de mudanças no desenvolvimento do mercado imobiliário que tem cada vez mais se organizado para atender aos interesses do capital. A própria legislação urbanística das cidades atende aos interesses do setor imobiliário que é responsável pela geração de bens duráveis que afetam toda sociedade e criam condições de infraestrutura, lazer, comércio, abrigo e conforto para a vida das pessoas. Isso tem contribuído cada vez mais para a segregação dos espaços deslocando as populações de baixa renda para um distanciamento entre centro e periferia levando como conseqüência a estados cada vez mais evidentes de favelização das grandes metrópoles.

Nos anos 90, marcados pela globalização, inovações tecnológicas e comunicações promoveram um esfacelamento dos Estados – Nações e houve uma redefinição do papel dos municípios, descentralização do poder e fortalecimento das parcerias públicas privadas através das estratégias de intervenção urbana. Como conseqüências deste processo podemos destacar: acirramento das desigualdades sociais, aumento da urbanização, surgimento de metrópoles de miséria, empobrecimento urbano e competição entre as cidades, políticas de reabilitação urbana gerando processo de gentrificação e o surgimento das megacidades.

A lógica imobiliária faz com que o preço das áreas nobres seja puxado para cima para atrair as pessoas para um novo conceito de morar. Exemplo hoje é o Bairro da Vila Leopoldina em São Paulo, antiga área industrial próximo ao CEAGESP – Central de Abastecimento de São Paulo que vem mudando sua paisagem urbana nos últimos tempos a partir do surgimento de novos empreendimentos imobiliários com conceito de multiuso ou multifuncional que privilegia apartamentos com 02 e 03 dormitórios e 01 torre de escritórios com entradas independentes no mesmo terreno, este tipo de empreendimento tem se apresentado como tendência do setor.

Entretanto, nessa mesa área, existem problemas antigos que ainda não foram resolvidos como, por exemplo, inundações durante as chuvas fortes que tem acontecido em São Paulo impedindo moradores da Avenida Mofarrej, a transitarem pela avenida que faz ligação com a Av.Gastão Vidigal. Estes problemas recorrentes das enchentes não baratearam o valor do metro quadrado que hoje para 01 sala comercial de aproximadamente 29metros está em torno de R$ 5.000,00
(cinco mil reais) ou muito menos atraíram melhorias para essa região na construção de galerias para o escoamento das águas pelo contrário, o setor imobiliário investe na propaganda de atributos como: “um projeto moderno e único, na região apontada como o “Soho de São Paulo”. Salas comerciais de 39 a 900 m². Auditório em área suspensa, Café, Bicicletário, Ecotelhado, Salas com previsão para ar-condicionado e forro, 6 elevadores, Terraço em todas as salas, Sistema de combate a incêndio em todos os andares, Estacionamento rotativo para visitantes”

Encerro este artigo com algumas provocações:

Existe alguma medida capaz de fazer a articulação entre os interesses econômicos e os interesses dos moradores das regiões que irão receber um novo empreendimento imobiliário?

Os chamados stakeholders, ou seja, as partes interessadas foram comunicadas sobre essa articulação imobiliária na região da Vila Leopoldina ?

Será que no planejamento urbano dessa área está previsto a melhorias das condições do trânsito uma vez que haverá um aumento significativo de pessoas e veículos que irão transitar nessa região?

Na propaganda que está disponível no site da construtora 0s atributos de marketing chamaram a atenção: ecotelhado e bicletário.

Ecotelhado – Bela iniciativa, mas gostaria de saber se as questões relacionadas aos alagamentos também serão resolvidos?

Biciletário – Como pode ter biciletário uma vez que tal empreendimento fica localizado na Avenida Gastão Vidigal que até o momento não possui nenhuma ciclovia?

Autora: Vivian Aparecida Blaso Souza Soares César, Relações Públicas, Especialista em Sustentabilidade