Os cem parques ou os sem-parque?

Carlos Bocuhy – O Estado de S.Paulo

A criação de parques e áreas verdes para São Paulo é imprescindível. Mas há questões de essência a serem respeitadas. Os parques devem integrar uma política ambiental para a sustentabilidade da cidade, com a proteção de fundos de vale, aumento das áreas de drenagem, atenuação das ilhas de calor, melhoria da qualidade do ar, proteção dos corpos d”água, manutenção da biodiversidade, criação de espaços e equipamentos públicos de qualidade e estímulo ao espírito comunitário.

Ná lógica da qualidade ambiental, há alguns requisitos. Um exemplo é a recuperação de córregos, que não devem ser tamponados. Também não se pode admitir a construção de parques à custa do aterramento ou assoreamento de reservatórios. Não haverá sustentabilidade nenhuma se isso ocorrer. Haverá sim mais impactos ambientais, o que é, no mínimo, uma contradição.

Além disso, parques planejados para a periferia devem ter os mesmos critérios aplicados, por exemplo, ao do Ibirapuera, sob pena de discriminação das comunidades menos abastadas. É imprescindível que tais espaços de convivência sejam um exemplo educativo de respeito ao meio ambiente. São espaços culturais, mais naturais, que têm como função sensibilizar e motivar a mudança de comportamento da comunidade. Construir esses espaços de forma eficiente e com respeito ao meio ambiente será a melhor contribuição educativa a ser dada pelo setor público.

Parques são indicadores da política de meio ambiente e da qualidade da gestão ambiental. Sem a participação da comunidade no planejamento e implementação, não há exigência social – nem condições para promover sustentabilidade. Aí incorreremos em conhecidos riscos da administração ineficiente: imediatismo, “mandracaria” das maquetes inauguradas e, no final, apenas o “faz de conta” característico do marketing verde.

INTEGRANTE DO CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Fonte: O Estado de São Paulo