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(Atualizado com comentários de João Furtado do Instituto Jatobás)
O resultado da ’2º enquete CiiS: consumo consciente’, mostrou que 25% dos votos escolheram educação de base como a principal medida para mudar de vez os hábitos cotidianos dos brasileiros. Segundo a Coordenadora Geral do CiiS, Vivian Blaso, o resultado está em linha com as principais tendências no debate transversal da sustentabilidade. Para ela, tudo converge na educação, mesmo que a ação empreendida seja outra.
“Educação resulta em um comportamento ético e ocorre também nas empresas”, explicou Vivian.
Para o professor João Furtado, Conselheiro Técnico do Instituto Jatobás e autor de um artigo do livro Ciência e Tecnoligia como Vetores para a Sustentabilidade a ser lançado no CiiS, os resultados da enquete estão alinhadas com pesquisas feitas pelo Instituto Akatu e do Ministério do Meio Ambiente sobre o tema. Segundo o especialista, o consumo é a ponta de um processo que deveria envolver também a produção, mas o caminho indicado no levantamento demonstra uma percepção da complexidade do problema que só pode resolver por meio educação de base e de capacitação do setor produtivo.
“A sociedade é objetivo difuso e a empresa o alvo objetivo, com menor aposta no efeito de conscientização – por ser um tanto intangível – de enforcement (fiscalização e penalidades). Apelar
para solidariedade e espírito comunitário parece não ser suficientemente crível”, disse.
Segundo os participantes da enquete, em segundo lugar com 20% dos votos, ficou a resposta Obrigando as empresas a repensarem o ciclo de vida de seus produtos e suas campanhas publicitárias’Em seguida, com 14% dos votos cada, os internautas elegeram ‘Autorregulação das próprias empresas e de suas campanhas publicitárias’ e ‘Introduzindo conceitos de solidariedade e ética nos currículos educacionais’.
A proatividade dos governos nestas questões teve menos votos. Apenas 10% escolheram ‘Com campanhas de conscientização promovidas pelos governos’ e‘Multando indivíduos que se excederem, como no caso do RJ que vai multar quem jogar lixo nas ruas’Em último lugar, com 7% dos votos, foi escolhido‘Preservando a solidariedade e o espírito comunitário’.
Leia a seguir, a avaliação completa feita pela professora Vivian Blaso:
“O consumo consciente passa pela educação. Esse é resultado mais expressivo da última enquete realizada pelo CiiS 2013. Podemos tirar desse aprendizado variadas interpretações que tentarei explicar a seguir.
Sabemos que o conhecimento emerge das nossas relações interacionais, ou seja, da nossa capacidade de transmitir mensagens por meio da linguagem.
Nas sociedades indígenas, o conhecimento é transmitido por meio da oralidade, da contação de mitos e do próprio modo de vida. Por isso, vale a pena refletirmos fora dos muros da enquete proposta: De que educação estaríamos falando, da educação disciplinar aprendida nas escolas? Ou da educação a partir das relações com os outros e as nossas sociabilidades?
Seria interessante refletirmos sobre a dinâmica social e compreendermos que o aprendizado já ultrapassou essas fronteiras. Hoje vivemos em uma sociedade interconectada que nos oferece padrões interacionais e modelos circuitivos que nos permitem a troca, o compartilhamento e as inovações.
Não resta dúvida que essas redes interconectadas exercem poder de influência sob nos e sobre os modos de vida.
Portanto, se pensarmos no papel da educação, teríamos a oportunidade de romper com o paradigma cartesiano que fragmentou a ciência e impossibilitou de ver que somos parte do todo, e o todo está na parte e definitivamente.
Se apostarmos na religação dos saberes, como foi proposto pelo sociólogo francês, Edgar Morin, ou como ele definiu: Os sete saberes necessários à educação do futuro.
Estes saberes são: As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão; Os princípios do conhecimento pertinente; Ensinar a condição humana; Ensinar a identidade terrena; Enfrentar as incertezas; Ensinar a compreensão; e A ética do gênero humano.
Por fim, a partir dos resultados da 2ª enquete CiiS podemos perceber que a educação deveria estar localizada e institucionalizada nas escolas ou nas empresas.
Eu vou além e diria que, sim, a educação também poderia estar localizada nas escolas e nas empresas, porém a educação tem como base a troca o compartilhamento de informações e os aprendizados, por isso, deve ser incentivada por instituições e receber múltiplos inputs e outputs interacionais que visem verdadeiramente o resgate a moral que parece estar esquecido em tempos de hoje quando é possível vender o corpo, emprestar a barriga, vender o sangue etc.
O filósofo político estadunidense, Michael Sendel, em seu livro – O que o dinheiro não compra – Os limites morais do mercado faz uma belíssima reflexão porque chegamos onde chegamos em nosso sistema mediado por relações de troca de bens e mercadorias. Não surpreendentemente, o autor também aposta na educação como saída para o futuro da humanidade.
Agora, o que nos resta diante dessa pequena reflexão? Eu sugiro fazer as seguintes perguntas:
1. Qual o papel dos educadores visando um consumo consciente?
2. Qual o papel nas relações com os outros – amigos, família, vizinhos?
3. O que as empresas podem e devem fazer para a construção coletiva de resgate a cidadania?
Por fim, uma enquete nunca se encerra, ela abre oportunidade para outras perguntas e assim vamos tentando responder as questões da vida.”
Os tema consumo consciente e educação serão abordados em dois painéis no CiiS. No dia 29, às 8:30, especialistas falarão sobre Educação a Distância e no dia 30, às 10:50, o painel Comunicação, Cultura, Tecnologias, que terá a participação de Vivian Blaso. Confira a programação aqui.