Além do marketing e do proselitismo

Artigo de Pedro Melo*

O desafio de reverter as mudanças climáticas, proteger o ambiente, garantir a produção de alimentos e o fornecimento de energia para mover o mundo e a economia exige atitudes cada vez mais responsáveis das empresas de todos os setores. Assim, têm cada vez mais valor e reconhecimento as organizações que primam pela produção limpa, racionalização do uso de água e eletricidade, conscientização de seus recursos humanos para uma postura cidadã perante o Planeta e a sociedade e outras práticas inerentes ao conceito de sustentabilidade.

Considerada a importância desse comportamento corporativo, é lícito e justo que as empresas que se pautam por conduta política, social e ecologicamente correta incorporem suas ações nesse campo às suas estratégias de marketing e comunicação institucional. Trata-se de uma iniciativa útil para todos, inclusive no sentido de estimular a multiplicação de projetos sustentáveis. Por outro lado, é condenável fazer o discurso e investir em propaganda quando não se tem algo concreto. Retórica não despolui, não sequestra carbono da atmosfera e, o que é mais grave, não convence todos durante todo o tempo.

O recado ficou muito claro no pronunciamento do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, durante o recente “‘KPMG Summit: Business Perspective for Sustainable Growth”, evento realizado em Nova York (EUA). Na ocasião, o líder internacional estimulou o universo corporativo a abraçar o princípio da sustentabilidade, dizendo que, com a maioria dos ecossistemas em declínio, a profunda desigualdade social e as mudanças climáticas, a prosperidade e a estabilidade global estão em risco.

Observando que “a sustentabilidade precisa ser incorporada ao DNA da cultura dos negócios e investimentos”, Ban elogiou a adesão de quase sete mil empresas, em 140 países, ao Pacto Global, iniciativa das Nações Unidas para estimular práticas responsáveis. Porém, criticou o fato de muitas companhias limitarem seus esforços de sustentabilidade a programas que nunca decolam e/ou a meras estratégias de relações públicas.

A relevância do tema e o imperativo de ampliar o número de organizações efetivamente responsáveis ante o Planeta e o futuro conferem significado ímpar ao Fórum de Sustentabilidade Corporativa, que será realizado no âmbito da Rio+20, que acontece no próximo mês de junho, na capital fluminense. Será uma ótima oportunidade de as empresas engajarem-se de modo definitivo e mais pleno nos pressupostos contidos nos três pilares do importante evento da ONU: o econômico, o social e o ambiental.

Quanto mais o tema sair do plano dos discursos e se converter em ação prática de governos, empresas e cidadãos, melhores condições terá o mundo, não só em termos de qualidade de vida, mas também nas reversões das crises. Afinal, será cada vez mais difícil garantir o crescimento econômico em meio a um ambiente devastado, multidões de miseráveis e recursos naturais esgotados. Cabe a cada um de nós — pessoas físicas e jurídicas — fazer a sua parte para impedir tal amanhã. Constrói-se o futuro com poucas e sábias palavras e muita ação!

*Pedro Melo é presidente da KPMG no Brasil