Entrevista com a professora da FAAP a Dra. Sasquia Hizuru falando sobre Construção Sustentável

Confiram também a vídeo entrevista no final do artigo!

Por Dra. Sasquia Hizuru Obata Coordenadora do curso de Pós-Graduação em Construções Sustentáveis da FAAP

Hoje a palavra sustentabilidade está muito em cena e onde muitos colocam seu uso como necessário para buscar evidência, para expor práticas, demonstrar ações ou tão somente transparecer que estão dentro da moda.

Mas sustentabilidade não combina com estar em cena ou ser uma moda, pois a própria palavra carrega o significado de ter bases, fundamentos e que possui a condição de suportar e dar sustentação, ou seja, não tem nada com temporário ou efêmero no sentido de terminar na próxima estação, principalmente quando esta palavra se associa a um bem durável que são nossas construções, nossa habitação e nossa cidade.

Portanto, construções sustentáveis exigem competências para realizá-las, exige o saber da integração de especialidades e especialistas, mas também os conhecimentos de princípios culturais, econômicos, sócio-empresarias, sócio-ambientais, tecnológicos, materiais e o senso crítico e analítico que o dilema ser perfeito será sustentável ou o ser sustentável será perfeito sempre será e um desafio a conquistar.

Quanto ao que me tange e que me é da experiência docente, criar competências significa formar profissionais que tenham em si a responsabilidade do termo sustentabilidade e integrados às construções, ou seja, como uma única palavra e como a condição de ser das nossas produções civis: construções, cidades e nosso mundo, ou no sentido de habitar, o casulo, o lar, o bairro , a cidade e a nossa casa terra.

Uma lembrança e um bom referencial de consistência do termo construções-sustentáveis e ainda de qualquer um que já viu, mesmo por foto ou in loco, são as pirâmides ou a via Apia, que logo fazem a correspondência com o antigo e remetem ao histórico, mas que continuam lá, são marcos e pontos culturais. Mas o objetivo de citar as Pirâmides e via Ápia é a oportunidade de demonstrar que os materiais e técnicas ainda estão lá presentes e ainda com condições de durabilidade indeterminada e uso.

Evidentemente não estou dizendo sobre usar tumbas ou aplicar em nossas ruas as técnicas da Via Ápia, esta por sinal seria um desconforto de vibração e geração de ruídos no seu entorno, mas já deveria ser nosso referencial tecnológico perante a infinidade de recapeamentos e pontos de asfaltos que só se apresentam como necessários em um ciclo vicioso e porque não dizer corrupto, pois muitas vezes estamos absortos nos deslocamentos, no trânsito e tempo perdido e ainda tempo que não estamos com os nossos familiares, amigos, ou simplesmente não é fácil, estar já no local que devemos sem o já impregnado stress.

Neste contexto as conexões, circulações e as zonas de “mixed-use” das cidades são hoje mais que aderentes e sustentáveis, pois combinam trabalho-casa, casa-comércio, casa-educação, etc sem deslocamentos excessivos e a oportunidade do uso de bicicletas ou mesmo o caminhar.

Retornando a Via Apia, sua forma então poderia estar em um bairro sustentável de hoje, e em um percurso curto sem gerar os incômodos já apresentados, mas de fato era assim que as cidades romanas eram implantadas, sem deixar de analisar o uso misto, o solo, a topografia, os deslocamentos, as águas para uso e as usadas, os ventos, a insolação, a localização das casas da população, os palácios, cada qual com técnicas específicas e ainda com a proximidade de fontes de alimentos e zonas agrícolas próximas.

No que se refere a zonas agrícolas próximas, nos dias de hoje se busca alternativas de cultivo em vasos nas varandas de edifícios, mas são ações para obter parte do tempero, são incipientes, mas muito mais inspiradoras de inclusão sustentável com todo merecimento, mas não de solução de atendimento a crescente população. Uma das respostas a esta demanda seriam as praças-hortas e até edifícios fazendas, as primeiras foram já soluções de alimentos para a cidade de Rosário na Argentina em crise de 2001 e em face ao alto índice de pobreza, já os edifícios fazendas são respostas visionárias de agricultura urbana, um mixed-use dentro do espaço verticalizado das cidades e com vistas a respostas através de construções sustentáveis.

Mas nossas demandas no Brasil são diversas, de atendimento ao aquecido mercado imobiliário em franca expansão e no momento de atendimento a padrão “minha casa minha vida”, edifícios convencionais a edifícios com vistas a certificações e com tecnologias inovadoras e porque não dizer high-tech, mas ainda diante da instabilidade da infraestrutura e da falta de atendimento a pobreza e miséria.

E mesmo com o andamento de grandes construções no sentido de melhoria de infraestrutuara e planejamento energético sustentável, como de usinas hidrelétricas e a já tão polêmica Belo Monte, em que uma cidade inteira de trabalhadores é instalada dentro de outra, nos resta questionar sobre os indicadores urbanísticos básicos de qualidade de uma cidade, quanto a sustentabilidade urbana e preparo político, como não eram previsíveis os níveis de criminalidade e desordem perante a grande oportunidade.

Outra polêmica é a já entregue usina de Balbina em que o caos de erros tecnológicos e ecológicos são exemplos em andamento e de divergência a sustentabilidade das construções como um todo, pois uma casa hoje além de ser um produto da indústria da construção exigindo em seu meios fabris energia, além de ser um bem durável que necessita da energia elétrica e recursos ao longo de seu ciclo de vida, ocupando hoje a posição de maior consumidor de energia entre os diversos setores, acima inclusive do setor comercial e industrial.

Portanto, o reconhecer exemplos de sucesso e insucessos, nossos potenciais de mercado e de atuação profissional, ter a oportunidade de identificar as tecnologias, certificações e materiais verdes, além de buscar os conhecimentos históricos e culturais, combinadas a ações sócio-empresariais que podem impactar no desenvolvimento humano, são itens que podem ser vivenciados ao longo de uma vida profissional e de estudos, mas podem ser os estudos de casos quando os profissionais voltam ao ambiente acadêmico para especializarem e atualizarem, perante um mercado que está procurando transformar moda em exigência de fato por sustentabilidade e diante do mundo na continuidade de “desastres naturais” e a demonstrar o desgaste da nossa maior casa que é a terra.