As ruas querem mobilidade e não só o congelamento de tarifas – Por Alexandre Spatuzza Revista Sustentabilidade

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Fernando Haddad pode tentar explicar para o resto de sua vida que o ajuste (revogado) foi feito abaixo da inflação e que as planilhas não o permitiriam manter a tarifa em R$3, principalmente por causa dos recentes aumentos de salários dos motoristas e cobradores. Mas ninguém vai se convencer até que o município de São Paulo – e as outras cidades da metrópole paulista – deem total transparência às contas das empresas que prestam este serviço essencial de transportar vidas pela urbe.
No entanto, é desalentador como os governos se recusam a inovar e buscar soluções visando a mobilidade como um todo. Eles preferem se ater a apenas resolver um problema pontual – mesmo assim reclamando que terão que aumentar subsídios, palavra tão odiada pelos grandes jornais conservadores, seus leitores e editorialistas.
Aumentar subsídios no transporte público é necessário numa cidade como São Paulo, que em comparação como outras capitais mundiais, é pífio. Segundo especialistas, o subsídio (mesmo com a decisão de ontem) em SP fica abaixo dos 20%. Na França, por exemplo, é 70%. Portanto, fizeram o óbvio.
Do outro lado, o da mobilidade, não há coragem de dizer também o óbvio: quem deve custear o serviço público de transporte são os usuários de carros, que também oneram os cofres (e nem são cobrados diretamente por isso como são os passageiros dos lotados ônibus e metrôs). O uso do carro como transporte individual diário requer gastos (e não investimentos) com recapeamento quase constantes de milhares de quilômetros, sinalização, mais e mais guardas da CET nas ruas e, principalmente, na saúde por causa da poluição.
Então, a saída é mais um imposto? Sim, por meio de pedágio urbano, mas paga quem quer (usar seu carro), no mais lindo princípio da solidariedade e do estímulo reverso. O dinheiro deste pedágio devendo ir para um fundo municipal ou metropolitano que custearia as obras necessárias para melhorar o transporte público e, no futuro, quem sabe subsidiar as passagens para termos finalmente o passe livre.
valor deste pedágio dependeria da estrutura dos fundos e da política pública de mobilidade, mas, com certeza, seria abaixo dos R$5 por viagem dos cerca de 7 milhões de automóveis da frota paulistana. É só fazer o cálculo: se metade desta frota fosse pedagiada por dia, teríamos R$17,5 milhões por dia e mais do que os R$6 bilhões por ano que custaria fazer o passe livre, segundo Haddad.
A mobilidade urbana é uma questão de direito e de sustentabilidade. Não adianta termos carros mais eficientes ou elétricos se não conseguimos chegar aonde queremos: continua sendo um desperdício e uso criminosos de recursos naturais. A solução passa por uma mudança de mentalidade e de percepção de nossos centros urbanos.
Como nos mostraram os manifestantes, a rua não é apenas lugar para carros, é lugar para a vida urbana. Com ousadia, os manifestantes pediram mudanças, sem ousadia e transparência, os governantes não conseguirão atender às demandas. Este é o momento em que vivemos.